domingo, 13 de maio de 2012

Um dia de Ana



    Naquela manhã o despertador tocou, mas Ana não levantou. Começou uma batalha interna. “Não vá trabalhar, fique deitada.”, disse uma vozinha manhosa em sua cabeça. “Isso aí é preguiça, levanta logo dessa cama. VOCÊ VAI SE ATRASAR!”, retrucou outra. “Que é isso, está congelante lá fora. Aqui é macio, quentinho e aconchegante.”, fez mais uma tentativa a voz suave. A outra respondeu com ironia “Você tem contas à p-a-g-a-r!”. Assim a segunda voz ganhou a discussão e fez com que nossa trabalhadora esquecesse o conforto.
      Ah! Se Ana soubesse o que lhe aguardava não teria o feito.
    No decorrer do dia ela derramou café na blusa branca, quebrou o salto da bota, furou o dedo com o grampeador, perdeu tudo no computador do trabalho por causa de uma pane, teve o chiclete de um pivete grudado no cabelo, brigou com o chefe, quebrou o presente que recém havia comprado para amiga, perdeu o ônibus, deixou a chave de casa cair no bueiro e não tinha dinheiro para pagar o chaveiro.
     Ana, porém, é forte. Aguentou tudo com muita calma e elegância. Se recompôs de cada acontecimento como uma mulher de verdade deve fazer. E como uma mulher deve fazer, ao entrar em casa aninhou-se a uma almofada do sofá, chorou os olhos pra fora, gritou, sofreu e esperneou por meia hora. Depois levantou-se foi rumo a cozinha, procurou doce e pecou com a gula sozinha. Tomou um banho quente, passou hidratante, vestiu o pijama perfumado, encarou a cama, deitou e dormiu.

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